Este foi dos jogadores que jogou contra o IPCA, a quando do jogo contra a prisão de Custóias.
Fica aqui o artigo que foi publicado no Maisfutebol.
O nome de Lúcio Rocha não dirá muito à maior parte das pessoas. Aliás, não dirá quase nada. Chegou a ser uma grande promessa do futebol nacional, mas nunca concretizou as ameaças. «A cocaína não me deixou», garante, numa conversa na biblioteca da Prisão de Custóias, onde se encontra a cumprir uma pena de quatro anos e quatro meses.
Na memória guarda os tempos em que foi considerado o melhor jogador português na categoria de sub-16, à frente do benfiquista Hugo Leal. Com quem fazia dupla nas selecções nacionais jovens. «Eu jogava como número dez e ele um pouco mais atrás, como oito». Ao lado de Sérgio Leite, Caneira, Simão e tantos outros.
Simão que, curiosamente, na altura nem era titular. «Ele só começou a jogar mais tarde. Na altura o titular era o Miguel, que agora está no Valencia». Lúcio era titular e foi seis vezes campeão pelo Boavista, com quem assinou contrato profissional aos quinze anos. Antes de Sérgio Leite e Filipe Anunciação, por exemplo. O problema, diz, foi esse.
«Vi-me desde novo com muito dinheiro no bolso. Não estava habituado. Sempre recebi algum por fora, mas aos quinze anos comecei a ter um ordenado fixo, quando os outros não recebiam nada, e acabei por me meter na cocaína. Primeiro era só aos domingos. Depois aos sábados e domingos. Quando dei por mim estava viciado naquilo».
Da Taça UEFA à prisão Natural do bairro de Fonte da Moura, um dos mais problemáticos do Porto, habituara-se a viver sem nada. Com dinheiro, as solitações tornaram-se muitas. Mas Lúcio não culpa o bairro. «A culpa foi minha», diz, ele que aos 16 anos foi convocado por Manuel José para um jogo da Taça UEFA com o Inter Milão e que nunca chegou a jogar no Boavista.
Emprestado pelo Boavista ao Oliveira do Hospital e ao Arrifanense nos primeiros anos, não soube manter a humildade. Manteve-se, isso sim, na droga, até que a cocaína se tornou mais importante do que o futebol. Que largou. «Comecei a fazer coisas menos próprias para a sociedade». Durante anos viveu no mundo do crime, até que foi preso.
A admiração por Cristiano Ronaldo, «que soube ter cabeça» Condenado a quatro anos e quatro meses, já cumpriu três anos e onze meses. Daqui a cinco, portanto, sai em liberdade. Para nunca mais voltar, promete. «A prisão serviu para me acalmar. Quero voltar a jogar futebol, tenho 28 anos, treino todos os dias aqui na prisão e sinto-me capaz de voltar a jogar, mesmo que num nível mais baixo».
Custóias, diz, nunca mais. «Aqui nunca mais meto um pé. Tenho um filho pequeno, quero ficar perto dele e afastar-me do crime. A vida às vezes leva-nos para o mal. O primeiro familiar a ver um jogo meu foi a minha mãe quatro anos depois de começar a jogar no Boavista, por isso andava sempre sozinho, na rua, e não tive cabeça».
Ora nesse sentido, Lúcio diz que para ele herói é Cristiano Ronaldo. «Também nasceu pobre, mas não perdeu a cabeça quando começou a ganhar dinheiro. Soube continuar trabalhador e humilde. Eu no início também era muito trabalhador. Treinava sozinho duas horas por dia e ia a pé para casa às onze da noite. Mas depois não tive cabeça».
Fonte: Maisfutebol